31 janeiro, 2012

O povo trabalhador do #Pinheirinho chora


Relato de @Cidoli

Fotos de @AdolfoPinheiro



No dia de ontem, ontem atendemos um pedido do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos das Pessoa Pessoa Humana ( Condepe ) para realizar um mutirão para ouvir as famílias desalojadas do Pinheirinho.

Chegamos em São José dos Campos e nos dirigimos a Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que inicialmente serviu de abrigo aos desalojados do Pinheirinho. Fomos orientados e nos dirigimos aos abrigos onde estavam os desabrigados. Através de um questionário entrevistamos com um grupo de 90 voluntários 508 pessoas nos quatros abrigos :Caíque Dom Pedro, Ubiratan Maciel, Parque Morumbi e Vale do Sol, todos localizados na periferia da cidade.



Coube a nós visitar o abrigo Caíque Dom Pedro, com 600 desabrigados. Estávamos tensos, pois já fomos barrados logo na entrada por policiais da Guarda Municipal, houve um desconforto inicial, mas com negociações com a Assistente Social Chefe, conseguimos realizar o nosso trabalho. Pessoas alojadas em salas de aulas, no Ginásio da escola, jogadas pelo chão em colchões e um pouco dos móveis que ainda trazem uma lembrança do Pinheirinho, situação desoladora, banheiros sujos, falta de infraestrutura adequada a acolher um ser humano.

Os desabrigados reclamavam muito da alimentação, que era entregue na forma de marmitex, diziam que a comida era ruim, as crianças relutavam em se alimentar.
Ao responder aos questionários, mais de 90% afirmaram que perderam tudo (cama, colchão, geladeira, televisão, computador, inclusive seus instrumentos de trabalhado, como um senhor de mais de 70 anos disse que a polícia não deixou levar o seu carrinho de transportes de coleta de reciclagem, quando chegou ao local para buscá-lo o carrinho estava queimado.







Foram momentos de angústia, eles relatavam violência, desrespeito dos policiais militares e guarda municipal , pois tudo começou as 05 da manhã num domingo de descanso , dia 22 de Janeiro, com helicópteros da PM fazendo vôo razante sobre as casas, e jogavam bombas de gás lacrimogênio, assustando os moradores, as bombas atigiam os seus quintais.


As pessoas choravam nos seus depoimentos, ficou difícil para contermos o nosso choro. Estavam arrasadas, sem ter para aonde ir. A prefeitura ofereceu uma bolsa aluguel de 500 reais para alugar uma casa, impossível, inclusive sofriam o preconceito de ser moradores da ocupação Pinheirinho. Por volta das 04 da tarde deixamos o abrigo, as pessoas queriam continuar relatar as suas tristezas, foi delicada a nossa despedida, deixando para trás aquele povo sofrido por uma violência que jamais esqueceram em suas vidas.

Audiência Pública



O nosso trabalho não parava por aí, ainda tínhamos uma audiência pública na Câmara Municipal de São José dos Campos, convocada pelo Condepe.

Chegamos ao local por volta das 19h o auditório estava lotado, com a presença dos desabrigados do Pinheirinho, parlamentares e várias entidades ligadas aos direitos humanos.


Momentos de emoção com o depoimento de moradores do Pinheirinho: Começa com o áudio de Deived, vítima da violência que levou um tiro nas costas desferido por um Guarda-Municipal e logo em seguida sua esposa falou, emocionada, pois o objetivo maior era preservar a vida do seu bebê de 10 meses. Ao voltar para casa, encontrou tudo vazio.

Foram vários os depoimentos, mas o que mais chamou atenção foi a fala de Paulo Maldos, secretário nacional de Articulação Social, da presidência da República, que estava no dia desocupação para dialogar, mas não conseguiu nada, inclusive ao falar com um oficial da PM ele disse “você volta e manda sua presidenta falar comigo”.


A audiência terminou por volta das 22h e estávamos convictos do que vimos e pelas coletas de depoimentos com os moradores, o que aconteceu na desocupação do Pinheirinho foi uma afronta aos direitos humanos das pessoas humildes e trabalhadoras, na verdade um”massacre” , destroçaram as suas vidas.
Ficou acertado que voltaremos no próximo sábado, dia 04 de Fevereiro.
Muita coisa a ser feita.


Texto: Aparecido Araujo Lima, Diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Editoras de Livros do Estado de SP

Fotos: Adolfo Pinheiro - MAVPTSP 

PM de SP: Manda sua presidenta falar comigo!








Depoimento parcial de Paulo Maldos, secretário nacional de Articulação Social, durante audiência pública na Câmara Municipal de São José dos Campos sobre a desocupação violenta do Pinheirinho

Transcrição publicada no blog Partido da Imprensa Golpista, sugerido pelo professor3f

Boa noite. Eu queria esclarecer que a minha presença naquela manhã se deu devido a um acordo da Presidência da República porque entendemos que haveria um tempo de 15 dias de estudar uma solução.

Como havia este tempo, a partir daquele final de semana iríamos trabalhar já a partir daquele momento. Trabalhavamos junto ao prefeito, ao governador. Eu fiquei incumbido de falar com a comunidade. Procurar as alternativas. Construir casas. Procurar terrenos. Solucionar. Eu vim numa missão de escuta. Tinha marcado nove da manhã, ainda por celular soube que havia um cerco na comunidade.

Não quis acreditar por conta do pacto. Eu não entendi como poderia estar cercado militarmente aquela comunidade. Eu cheguei e me deparei com uma situação bastante crítica. Um cerco militar com escudos escrito choque.

Eu quis acessar o comando. Me dirigi até o grupo de soldados, quando cheguei até uns oito metros. E fui advertido que parasse e vi armas em minha direção.

Dei a volta e fiquei a uns vinte metros de distância. E conversando com a população, de repente sem mais nem menos, eu senti um ferimento, eu recebi uma bala na perna esquerda. Procurei me esconder. Esta tropa veio atacando a população.

Eu fiquei por nove horas no bairro. Sofremos ondas de ataque. Haviam cercado o Pinheirinho. Pude perceber ataques cada vez mais prolongados. Jogando bombas. Notícias de senhoras sendo espancadas. Por volta de onze da manhã, tentei acessar o comando da operação.

Voltei fiquei falando com os jornalistas. Fomos chamados por um grupo de oficiais. Eu tentei ir junto, mas fui barrado. Apresentei meu cartão da Presidência da República. Com brasão. Secretaria Nacional. Ele leu e falou que eu não entrava. Ele falou você : você volta e manda sua presidenta falar comigo (murmuros).

Bolsa Família foi bloqueado para o #Pinheirinho

Do Blog da Cidadania
por Eduardo Guimarães


Passei o dia de ontem no Caic D. Pedro, em São José dos Campos – um centro esportivo transformado em depósito de gente. Meu trabalho – e das outras 91 pessoas (43 de São Paulo e o resto do interior) que integraram a força-tarefa do Condepe – foi o de ouvir e registrar, em formulário específico, denúncias de violência e/ou danos materiais.

Apesar do muito que tenho a relatar, antes de mais nada tenho que fazer uma denúncia urgente pois as necessidades daquelas famílias não podem esperar. Entrevistei muitas pessoas, ouvi histórias absurdamente dolorosas, denúncias que me fizeram a alma ferver, vi cenas que jamais tirarei da cabeça, mas o que me preocupa, agora, é outra coisa.

A grande maioria dos que ouvi recebe o Bolsa Família. Todavia, o benefício tem um pré-requisito para quem tem filhos em idade escolar: eles têm que estar matriculados na escola. Ocorre que muitas pessoas não têm como matricular os filhos em escola alguma porque não sabem aonde irão morar e, além disso, não têm mais endereço para informar.

Algumas das famílias que entrevistei relatam que, por conta disso, tiveram o Bolsa Família bloqueado, pois, devido a toda aquela tensão que antecedeu a reintegração de posse do terreno em que viviam, acabaram não matriculando os filhos. E agora que estão amontoadas em depósitos de gente é que não têm nem como pensar nisso.

O governo federal, portanto, precisa liberar o pagamento do benefício para aquelas famílias mesmo que não tenham matriculado os filhos.

Essa medida tem que ser tomada já. A maioria daquelas pessoas foi demitida por ser do Pinheirinho, empresários de São José dos Campos se negam a contratar quem era de lá, então o Bolsa Família é a única fonte de renda para muitas daquelas famílias.

Aliás, também vale relatar que as famílias foram avisadas de que terão que deixar os depósitos até a semana que vem, quando quem não conseguiu casa terá que ir para galpões que ficam à beira de rodovias, longe do comércio, sem qualquer serviço público, sendo que não têm como se locomover porque a maioria tem doentes, crianças de colo, idosos, pessoas de todas as idades com necessidades especiais, sem falar que a grande demanda por imóveis gerada por centenas de famílias desabrigadas inflacionou o mercado, tornando insuficientes os 500 reais que serão dados pelo governo.

De resto, foram mais de 500 denúncias de roubo ou destruição de patrimônio – pessoas expulsas, quando voltaram para buscar suas coisas, encontraram suas casas ainda de pé, mas vazias, ou então queimadas ou esmagadas pelos tratores. Há também quase 20 denúncias de lesões corporais e ao menos dois desaparecimentos.

Detalhe: são denúncias com nome e assinatura dos denunciantes.

Não foi por outra razão que explodiu o desespero daquela gente durante audiência na Câmara Municipal de São José dos Campos, ontem à noite, quando as denúncias foram formalizadas. Quase ocorreu uma desgraça. O guarda da portaria da Câmara impediu um grupo de rapazes do Pinheirinho (todos negros, claro) de entrarem na Casa do povo. E ainda disse que gente como eles tinha que morar debaixo da ponte mesmo. Indignados e desesperados, meia dúzia de jovens invadiu a Câmara e perseguiu o guarda. Entrei no meio da confusão, junto com outros voluntários, e conseguimos impedir um linchamento.

Por pouco não acabamos agredidos, pois aqueles jovens estavam fora de si de tão desesperados e indignados. Mas conseguimos que nos ouvissem, sobretudo quando lhes disse que se cometessem aquele erro estariam dando razão aos seus algozes.

Quem pode culpá-los? Perderam seus bens, suas casas, seus empregos, suas dignidades e, agora, algumas famílias também perderam o Bolsa… Família. Por isso, presidenta Dilma Rousseff, rogo, por tudo que é mais sagrado, que seja ágil ao liberar o benefício para as famílias do Pinheirinho, com ou sem matrícula.

29 janeiro, 2012

Estamos todos bem


Imagem via ConversaAfiada


Dica @jrfidalgo

O fascismo social e o silêncio conivente da esquerda

Brasil: inimigo meu
por Túlio Muniz 

Em Agosto de 2011, o Observatório da Imprensa publicou artigo de minha autoria, Por novos discursos midiáticos, no qual abordei o conceito de “fascismo social”, de Boaventura Santos, e adiantei o que chamo de Dispositivo Pós-Colonial, ou DPC.

Relembrando: o “fascismo social” é “um tipo de regime no qual predomina a lógica dos mercados financeiros em detrimento de grandes setores das populações, gradativamente distanciados e excluídos do campo de direitos sociais adquiridos nas últimas décadas. O risco, alerta Santos, é o da ingovernabilidade”.

Presente no Forum Social de Porto Alegre quando da expulsão dos moradores do Pinheirinho, Santos, ainda que não referisse diretamente ao seu próprio conceito, demonstrou como o “fascismo social” é presente na sociedade brasileira, e reafirmou a necessidade de se contrapor a ações como aquela, que, com o aval do Estado, beneficiam setores dominantes e opressores em detrimento do bem público e social (ver aqui).

O caso do Pinheirinho é grave e preocupante, e alinha-se a outros acontecimentos recentes de violência estatal. Entre outros, estão a carga da polícia militar contra estudantes em São Paulo (USP) e contra professores cearenses, ambos em 2011. Vale lembrar que, já neste ano, a polícia militar foi autorizada pelos governos do Espirítio Santo, do Piauí e de Pernambuco a carregar contra estudantes, em protestos contra reajustes do transporte coletivo.

Aqui há perigo. SP está nas mãos dos debilitados tucanos, do PSDB que há quase duas décadas se aliou à direita financista, mas CE, PI, PE e ES são estados governador pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), o que demonstra que as cessões ao “fascismo social” não são exclusivos da direita, extravasaram também para a centro-esquerda, e às vezes com o silêncio conivente de partidos de esquerda.

Nos meio de comunicação convencionais, as abordagens críticas ao “fascimo social”, permanecem restritas aos espaços já consolidados (revista Carta Capital, Rede Record), com raras e bravas exceções, como a do jornalista Ricardo Boechat em seus comentários na Rádio Bandeirantes.

E eis que em meio ao caos ressurge com força o que outrora chamei de DPC, discursos e estratégias que os governos exercem sobre suas próprias populações, “impondo normas que visam tanto a justificar ocupações e dominação de territórios estrangeiros, quanto à imposição de determinações internas. Tais normas são geradas por governantes que necessitam coagir as populações nacionais e são sustentadas e difundidas pela mídia”.

A Rede Globo (não por acaso) permanece sendo o campo privilegiado de propagação do DPC. Se na TV aberta se esboça um certo pudor e contenção, estes se desnudam nos canais fechados da Globo, o que ficou patente  em entrevistas recentes conduzidas por Monica Waldvogel.

Para além do bem e do mal, o DPC resulta no que se pretende, ou seja, coagir populações com discurso institucional legalista e higienista, conforme diz a Folha de S.Paulo de domingo, 29 de Janeiro: Polícia na cracolândia é aprovada por 82% em SP”.

O que fazer nesse campo confuso, onde tanto o “fascismo social” quanto o DPC são gerados à esquerda e à direita? Talvez, estar atentos para o que muitos vem chamando de período pós-institucionais, a eclosão de movimentos não necessariamente estruturados ou vinculados à organizações governamentais e não-governamentais (nesse sentido sugiro leitura de análise de [Emir] Sader, aqui).

Entretanto, permanece relevante o papel de pensadores que se inserem na mídia para tratar de casos que passam ao largo da “neutralidade” jornalística, e exemplo disso é o artigo “Razão, desrazão”, do sociólogo e filósofo Daniel Lins no jornal O POVO de 29 de Janeiro, acerca da violência estatal no Pinheirinho: “A exclusão da loucura emerge no domínio das instituições mediadas pelo enclausuramento psiquiátrico ou social. Exilado em sua diferença intratável, o destino do louco ou do pobre é o confinamento moral, social”.


No mesmo nível de importância no combate ao DPC, estão os sites e blogues no estilo do Observatório, e tantos outros (viomundo, conversaafiada, escrevinhador, luiznassif, cartamaior, etc). Estes, mais do que a mídia convencional, primam pela proximidade entre jornalismo e pensamento. Portanto, parece urgente e preciso, cada vez mais, reforçar e manter a aliança entre opinião e reflexão, esta arma poderosa que causa horror aos jornalões, às TVs e ao poder institucionalizado.

Pinheirinho, polícia contra estudantes e professores, magistrados nababos, prédios desabando, mídia sem regulação. O Brasil, definitivamente, não precisa de inimigos externos.

*Túlio Muniz é jornalista, historiador e doutor em Sociologia pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.

PS do Viomundo: Não há combate possível ao fascismo social sem democratização da mídia; mídia concentrada, ascensão social despolitizada — calcada no consumismo — e governo por pesquisas de opinião são ingredientes essenciais para fomentar o “discurso da ordem”, que existe para bloquear a expansão dos direitos sociais.

Uma singela homenagem ao mundo livre




#TwitterBlackout: Twitter, la censura selectiva y la libertad de expresión

Por Paco Arnau
Ciudad Futura

“Twitter ha dejado muy claro cuáles serán sus políticas [...] Twitter ha sido directo sobre lo que está haciendo. Tendremos que ver cómo funciona”.

Victoria Nuland, portavoz del Departamento de Estado de EEUU, sobre la censura de contenidos en Twitter.

Los últimos días han estado plenos de eventos que afectan al ejercicio en la red Internet de uno de los derechos fundamentales de las personas, la libertad de expresión, independientemente del país en que vivan.

La ratificación por parte del nuevo gobierno español del PP de la llamada Ley Sinde del anterior gabinete del PSOE, un controvertido reglamento que pone en cuestión el derecho a la libertad de expresión en aras del interés de las multinacionales de la industria del cine o de la música de una determinada potencia, EEUU, cuya Embajada en Madrid dictó las bases de la citada ley, como así han demostrado los documentos filtrados por Wikileaks.

El cierre al tráfico en la Red de más de un 4% de sus contenidos -caso Megaupload-, incluída una ingente cantidad de archivos personales de decenas de millones usuarios que pasan a manos del FBI y otras agencias de EEUU. Para ejecutar este atropello no ha sido necesaria la aprobación o aplicación de nuevas leyes regresivas tipo Sinde (SOPA, ACTA…). Por la vía de los hechos, EEUU ha perpretrado el ataque con celeridad inusitada y ha puesto a sus pies los aparatos policiales de sus satélites para proceder a incautación de servidores y detenciones casi instantáneas. Un hecho sin precedentes por su masividad y celeridad, también en aras de la defensa de los intereses de la industria audiovisual multinacional estadounidense.




Cuando un propietario intenta acceder a sus fotos, trabajos o documentos personales archivados en Megaupload se encuentra este aviso de una potencia extranjera (si no es súbdito de EEUU)
Internet como escenario de guerra

Anteriormente, el gobierno mundial de facto de EEUU había requerido a gigantes de la Red comoGoogle y Facebook que fueran puestos a su disposición información y datos personales de los usuarios de las citadas compañías globales y, en el mismo sentido, se daba a conocer a la opinión pública la “monitorización” (vigilancia) masiva de los mensajes en las redes sociales por parte de las agencias competentes; a saber: CIA, FBI, Seguridad Nacional y Cibercomando del Pentágono (Ministerio de Defensa de EEUU). Es decir, tras la dotación en 2010 de grandes fondos para el “escenario de guerra” en Internet por parte del gobierno de Obama (una parte del presupuesto de guerra más elevado de la historia que superó con creces al de la anterior administración de Bush II), EEUU se ha tomado muy en serio la importancia bélica del teatro de operaciones de la Red de redes.

A todo esto, parecía que Twitter -una red social que se alimenta y por tanto vive de los contenidos (tweets, imágenes o enlaces) aportados por los propios usuarios- seguía siendo un especie deislote ajeno a interferencias del poder global o de los gobiernos locales. No parece que así sea en realidad: esta semana que acaba, Twitter anunciaba oficialmente que “cuando sea requerida [la compañía], eliminará contenidos de los internautas” en función de “las diferentes legislaciones sobre la libertad de expresión que existen en el mundo” y “razones históricas y culturales (sic)” para “retirar contenido de usuarios en un país específico, manteniéndolo disponible en el resto de países” [véase en Público.es: Twitter se rinde a la censura].

Al margen de este anuncio reciente de Twitter tan calculadamente ambiguo como preocupante, es evidente que hasta ahora se había venido aplicando censura en Twitter. Baste recordar que en alguna ocasión ha sido manipulado el algoritmo de los “Temas del momento” (TT) cuando estos eran especialmente sensibles para EEUU en función sus leyes o de su política exterior (como es el caso del bloqueo a Cuba). No olvidemos que Twitter es una empresa radicada en EEUU. Recientemente, el ‘hashtag’ #DerechosdeCuba fue bloqueado en España a pesar de haber tenido mucho mayor volumen de menciones que otros que no sufrieron la misma triste suerte, como así fue demostrado con datos de tráfico real.

Asimismo, Twitter ha cerrado cuentas de forma arbitraria sin denuncia ni decisión judicial previa (ni siquiera requerimiento policial) por motivos políticos que afectan a la libertad de expresión. Éste fue el caso de algunos perfiles humorísticos que parodiaban a personajes del régimen español como Rubalcaba (PSOE) o algún caso similar de cierre de cuentas en Facebook de perfiles paródicos de Mariano Rajoy u otros líderes del PP. Mientras tanto, el cierre de cuentas que fomentan actos delictivos o atentan contra la salud pública casi nunca se hace efectivo por parte de Twitter aduciéndose que se requiere para ello el preceptivo mandato judicial correspondiente. Un curioso doble rasero.


#CensuraTwitter y #TwitterBlackout

Frente a la conspiranoia y la candidez embobada está la visión global de las cosas. ¿Alguien puede creer que no existe una cierta concatenación en los hechos hasta ahora relatados?, ¿acaso son independientes?, ¿no hay relación causa-efecto entre ellos?, ¿Twitter es una realidad paralela ajena al mundo y a los tiempos que vivimos? Pensamos que no.

La denuncia de muchos usuarios de Twitter a este anuncio de la compañía de establecer límites a la libertad de expresión en función de donde se ejerce, no se hizo esperar. El viernes 27 de enero, miles de mensajes de quienes hacen día a día los contenidos de esta red social mostraban su desacuerdo incluyendo #CensuraTwitter (en el mundo hispanohablante) y a nivel internacional se convocó a una huelga de contenidos de 24 horas para el día siguiente, sábado 28 de enero, día sin tweets o #TwitterBlackout(que llegó a ser TT absoluto mundial y en España y muchos países también).

Las reacciones contrarias no se hicieron esperar tampoco. Podemos poner un ejemplo: En los informativos del mediodía de la cadena SER del 27 de enero, en un cara a caraentre el periodistaAntón Losada e Ícaro Moyano (exdirectivo de Tuenti y actual jefe de redes de PRISA, multinacional a la que pertenecen SER y el diario madrileño El País), Moyano defendía la decisión de Twitter y la necesidad de censurar sus contenidos. Como principal argumento de “autoridad” citaba que Ricardo Galli (empresario de ‘Menéame‘) compartía esa posición. Por su parte, Losada manifestó que era contraproducente cualquier tipo de actividad censora en una red como Twitter por sus propias características, algo basado en que cada cual opine lo que quiera independientemente de donde sea [vino a decir, pues cito de memoria].

Viniendo de quienes vienen, las posiciones favorables de Moyano y Galli a la aplicación “selectiva” de la censura en Twitter no resultan sorprendentes. PRISA y sus medios se caracterizan desde hace mucho tiempo por manipular o censurar noticias “sensibles”, especialmente si éstas proceden del ámbito latinoamericano y en particular si proceden de gobiernos de izquierda o progresistas del subcontinente. Del empresario de ‘Menéame’ y su compañía diremos que su posicionamiento es estrictamente coherente con la defensa de sus propios intereses y trayectoria. Vamos a dejarlo ahí… ejemplos de censura “de oficio” en ‘Menéame’ de noticias procedentes de medios digitales progresistas de amplio impacto son de sobra conocidos. Por no hablar de la panoplia de censores trasnochadosy masa enfurecida que desde hace años cohabitan en ese “ecosistema” hostil al debate racional de ideas.

Por lo demás, el seguimiento a la huelga de contenidos de los que hacen los contenidos (eso es, ni más ni menos el #TwitterBlackout) se puede y se debe calificar como masivo sin entrar en guerras de cifras; porque, entre otras cosas, aquí sí hay Patronal pero no hay sindicatos -ni “piquetes” [¿!], como afirmaban algunos adictos al orden establecido escandalizados por la iniciativa. La repercusión en España y Latinoamérica ha sido más que notable, así como en diversos medios de comunicación que han citado la iniciativa y a sus promotores (El País ha incidido de forma manipuladora y torticera en que ha sido una iniciativa de “Anonymous” y nada más lejos de la realidad, #TwitterBlackOut se ha difundido a cara descubierta). La repercusión mundial también ha sido evidente si a los TT nos remitimos, teniendo en cuenta además que la gran mayoría de los mensajes de #TwitterBlackOut eran favorables a la iniciativa.

Entre los contrarios a la huelga, los principales argumentos contra el #TwitterBlackOut han sido, muy resumidamente, dos:
“No servirá para nada” (poco que añadir a esto puesto que es recurrente a modo autojustificativo ante cualquier tipo de movilización por parte de los reacios a comprometerse o los “equidistantes” de turno) y
“No hay tal censura puesto que Twitter ha dicho que la censura se hará por países y no para todo el mundo”. Sobre esto último sí nos detendremos a reflexionar pues nos parece un argumento, además de paradójico y extraño desde el punto de vista de la lógica racional, especialmente perverso. ¿La libertad de expresión es un derecho parcelable por países, culturas o etnias y no un derecho universal independientemente de donde vivas? Radicalmente, no. Esa visión parcial de una libertad de expresión territorializada nos lleva a la arbitrariedad pura y dura, al doble rasero en su aplicación en función de si ésta favorece o no a aliados y a supuestos enemigos. Y ya sabemos bajo qué criterio se establecen alianzas y guerras en la actualidad: el interés económico y geoestratégico de una superpotencia que campa a sus anchas también en Internet. Que se pudiera aplicar en función de leyes antifascistas en determinados países es la coartada “democrática”. En el mundo y en el tiempo en que vivimos parece obvio que se aplicaría la censura más bien en función de leyes anticomunistas o con fines bélicos de forma selectiva (no olvidemos el importante papel de las redes sociales para la propaganda de guerra a favor de la OTAN y sus rebeldes en Libia o en los más recientes casos de Siria e Irán a favor del tándem EEUU-Israel).

Ante la sinrazón de la fuerza por la vía de los hechos, algo que vemos o que sufrimos a diario en la Red y fuera de ella, bienvenida sea cualquer iniciativa que ponga en valor la fuerza de la razón democrática sin fronteras y además la demuestre con efectividad y resolución. Cuando está en juego la libertad de expresión no caben titubeos ni falsas equidistancias. Twitter es una compañía que no cobra por el uso de sus servidores, al igual que quienes aportamos sus contenidos tampoco cobramos por ello. Si no estamos de acuerdo con algo tan importante como que lo que escribimos pueda ser censurado -ya sea local o globalmente- “preventivamente” o de forma “retroactiva”, como han afirmado portavoces de la compañía, tenemos perfecto derecho a no aportar contenidos durante 24 horas como medida de protesta “preventiva” y efectiva para que tomen nota de que muchos, más de los que creen como se ha podido comprobar con el #TwitterBlackout, no comulgamos con ruedas de molino en algo tan básico como la libertad de expresión, un derecho universal inalienable.

Texto: Paco Arnau
ciudad-futura.net@ciudadfutura en Twitter

Veja também o velho e bom 'Manifestoon' Comunista:





Veja também o documentário de Oliver Stone: Comandante 

28 janeiro, 2012

Manifesto pela denúncia do caso #Pinheirinho à OEA

Liberdade, Igualdade e Fraternidade


No dia 22 de janeiro de 2012, às 5,30hs. da manhã, a Polícia Militar de São Paulo iniciou o cumprimento de ordem judicial para desocupação do Pinheirinho, bairro situado em São José dos Campos e habitado por cerca de seis mil pessoas.

A operação interrompeu bruscamente negociações que se desenrolavam envolvendo as partes judiciais, parlamentares, governo do Estado de São Paulo e governo federal.

O governo do Estado autorizou a operação de forma violenta e sem tomar qualquer providência para cumprir o seu dever constitucional de zelar pela integridade da população, inclusive crianças, idosos e doentes.

O desabrigo e as condições em que se encontram neste momento as pessoas atingidas são atos de desumanidade e grave violação dos direitos humanos.

A conduta das autoridades estaduais contrariou princípios básicos, consagrados pela Constituição e por inúmeros instrumentos internacionais de defesa dos direitos humanos, ao determinar a prevalência de um alegado direito patrimonial sobre as garantias de bem-estar e de sobrevivência digna de seis mil pessoas.

Verificam-se, de plano, ofensas ao artigo 5º, nos. 1 e 2, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José), que estabelecem que toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral, e que ninguém deve ser submetido a tratos cruéis, desumanos ou degradantes.

Ainda que se admitisse a legitimidade da ordem executada pela Polícia Militar, o governo do Estado não poderia omitir-se diante da obrigação ética e constitucional de tomar, antecipadamente, medidas para que a população atingida tivesse preservado seu direito humano à moradia, garantia básica e pressuposto de outras garantias, como trabalho, educação e saúde.

Há uma escalada de violência estatal em São Paulo que deve ser detida. Estudantes, dependentes químicos e agora uma população de seis mil pessoas já sentiram o peso de um Estado que se torna mais e mais um aparato repressivo voltado para esmagar qualquer conduta que não se enquadre nos limites estreitos, desumanos e mesquinhos daquilo que as autoridades estaduais pensam ser “lei e ordem”.

É preciso pôr cobro a esse estado de coisas.

Os abaixo-assinados vêm a público expor indignação e inconformismo diante desses recentes acontecimentos e das cenas desumanas e degradantes do dia 22 de janeiro em São José dos Campos.

Denunciam esses atos como imorais e inconstitucionais e exigem, em nome dos princípios republicanos, apuração e sanções.

Conclamam pessoas e entidades comprometidas com a democracia, com os direitos da pessoa humana, com o progresso social e com a construção de um país solidário e fraterno a se mobilizarem para, entre outras medidas, levar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos a conduta do governo do Estado de São Paulo.

Isto é um imperativo ético e jurídico para que nunca mais brasileiros sejam submetidos a condições degradantes por ação do Estado.

1. Fábio Konder Comparato – Professor Titular da Faculdade de Direito da USP

2. Marcio Sotelo Felippe – Procurador do Estado – SP (Procurador Geral do Estado no período 1995-2000)

3.Hélio Bicudo – Procurador de Justiça – Ex-Presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos

4. Paulo Sérgio Pinheiro – Ex-Ministro de Estado Secretario de Direitos Humanos –

5. Associação Juízes para a Democracia (AJD)

6. Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM)

7. Celso Antonio Bandeira de Mello – Advogado – Professor PUC-SP

8. Alaor Caffé Alves – Professor Titular da Faculdade de Direito da USP

9. Sérgio Salomão Shecaira – Professor Titular da Faculdade de Direito da USP

10. Maurides Ribeiro – Professor da Faculdade de Direito de Campinas – FACAMP

11. Kenarik Boujikian Felippe – Desembargadora do Tribunal de Justiça – SP

12. Wálter Fanganiello Maierovitch – Desembargador do Tribunal de Justiça – SP

13. André Luiz Machado Castro – Presidente da Associação Nacional de Defensor Públicos e Coordenador-Geral da Associação Interamericana de Defensorias Públicas – AIDEF

14. Alexandre Morais da Rosa – Juiz de Direito (TJSC). Professor Adjunto UFSC

15. José Henrique Rodrigues Torres – Juiz de Direito – Presidente do Conselho Executivo da Associação Juízes para a Democracia – Professor PUC Campinas

16. Marcelo Semer – Juiz de Direito – SP

17. Rubens Roberto Rebello Casara – Juiz de Direito – Professor IBMEC – RJ

18. Jorge Luiz Souto Maior – Juiz do Trabalho – Professor Livre- Docente USP

19. Dora Martins – Juiz de Direito – SP

20. José Damião de Lima Trindade – Procurador do Estado – Ex-Presidente da Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo

21. Fernando Mendonça – Juiz de Direito – MA

22. João Marcos Buch – Juiz de Direito – SC

23. Maria Eugênia R. Silva Telles – Advogada – SP

24. Pedro Abramovay – Professor FGV – Rio

25. Mauricio Andrade de Salles Brasil – Juiz de Direito – BA

26. Célia Regina Ody – Juíz Federal Substituta – MS

27. Gerivaldo Alves Neiva - Juiz de Direito – BA

28. Aton Fon Filho – Advogado

29. Jorge Fazendeiro de Oliveira –Advogado – SP

30. Pedro Estevam Serrano – Professor PUC – SP

31. Marcos Orioni Gonçalves Correia – Juiz Federal – Professor USP

32. Pierpaolo Bottini – Professor – Direito USP

33. Fernando Calmon – Defensor Público – DF

34. Carlos Eduardo Oliveira Dias – Juiz do Trabalho – Campinas

35. Ana Paula Alvarenga Martins – Juiz do Trabalho – Porto Ferreira

36. Julio José Araújo Junior – Juiz Federal – RJ

37. Fabio Prates da Fonseca – Juiz do Trabalho – Aparecida do Norte

38. Roberto Luiz Corcioli – Juiz de Direito – SP

39. Antonio Maffezoli – Defensor Público Interamericano

40. Anna Trota Yard – Promotora de Justiça – SP

41. Luiz Antonio Silva Bressane – Defensor Público – DF

42. Rodrigo Suzuki Cintra – Professor da Faculdade de Direito do Mackzenzie

43. Michel Pinheiro – Juiz de Direito – CE

44. Geraldo Majela Pessoa Tardelli – Diretor da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo

45. Maria Luiza Flores da Cunha Bierrenbach – Procuradora do Estado – SP

46. Reginaldo Melhado – Juiz do Trabalho – PR

47. Inês do Amaral Buschel – Promotora de Justiça – SP

48. Marcelo de Aquino – Procurador do Estado – SP

49. Juvelino Strozake – Advogado

50. Marco Aurelio Cezarino Braga – Advogado – SP

51. Andrei Koerner – Professor UNICAMP

52. Alcides da Fonseca Neto, Juiz de Direito – RJ

53. Giane Ambrosio Alvares – Advogada

54. José Rodrigo Rodriguez – Professor – Direito – GV – São Paulo

55. Camilo Onoda Caldas – Professor da Universidade São Judas Tadeu (SP)

56. Silvio Luiz de Almeida – Doutor em Direito pela USP – Presidente do Instituto Luiz Gama (SP)

57. Rafael Bischof dos Santos – Professor da Faculdade de Direito da Universidade São Judas Tadeu (SP)

58. Aristeu Bertelli – Condepe – SP

59. Albérico Martins Gordinho – Advogado – SP

60. Cristiano Maronna – Advogado – SP – Diretor do IBCCRIM

61. Carlos Weis – Defensor Público – SP

62. Roberta Silva Aidar Franco – Delegada de Polícia (SP)

63. Luciana Silva Garcia, Advogada, Brasilia-DF

64. Leandro Gaspar Scalabrin, advogado, RS

65. Clara Silveira Belato, Advogada, RJ

66. Vinicius Gessolo de Oliveira, Advogado, PR

67. Lucia Maria Moraes, Professora da PUC/GO, Relatora do Direito à Moradia 2004 a 2009, GO

68. Mário Rui Aidar Franco, Delegado de Polícia, SP

69. Rafael Silva, Advogado, MA

70. Daniela Felix Teixeira, Advogada, Vice-Presidente da Advogados Sem Fronteiras , SC

71. João Paulo do Vale de Medeiros, professor da UERN, RN

72. Eduardo Alexandre Costa Corrêa, Advogado, MA

73. Felipe Bertasso Tobar, Advogado – SC

74. Luciana Bedeschi, Advogada, SP

75. Thiago Arcanjo Calheiros de Melo, Advogado, SP

76. Julio Cesar Donisete Santos de Souza, Assessor Jurídico MCTI, DF

77. Alexandre F. Mendes, Advogado, RJ

78. Manoel A. C. Andrade Jr., Urbanista, SC

79. Vinícius Magalhães Pinheiro, Professor universitário e advogado, SP

80. Márcio José de Souza Aguiar, Procurador Municipal, Fortaleza, CE

81. José Fabio Rodrigues Maciel, Advogado, SP

82. Maria Carolina Bissoto – Professora – PUC Campinas

83. Bernardo Luz Antunes, Advogado, RJ

84. Reinaldo Del Dotore – Bacharel – São Paulo

85. Francisco Martins de Sousa. Professor Universitário, CE

86. Gladstone Leonel da Silva Júnior, doutorando em Direito (UnB), Assessor da Relatoria Nacional de Direito à Terra da Plataforma DHESCA-Brasil, DF.

87. Glauco Pereira dos Santos, Advogado, São Paulo

88. Newton de Menezes Albuquerque, Prof de Direito da UFC e da UNIFOR, CE

89. Frederico Costa Miguel – ex-Delegado de Polícia – SP

90. Marcela Cristina Fogaça – Advogada – SP

91. Isabel Souza – Advogada – CE

92. Moacyr Miniussi Bertolino Neto

93. Mário Ferreira de Pragmácio Telles – Advogado – CE

94. Thiago Barison de Oliveira – Advogado – SP

95. Frederico Costa Miguel – Advogado – SP

96. Antonio Escrivão Filho – Advogado – DF

97. Vanderley Caixe Filho – Advogado – SP

98. João Paulo de Faria Santos – Advogado – Professor UniCEUB – DF

99. Conselho Federal de Psicologia

100. Roberto Rainha – Advogado – SP

101. Alessandra Carvalho – Advogada – SP

102. Nilcio Costa – Advogado – SP

103. Marcio Barreto – Advogado – SP

104. Maristela Monteiro Pereira – Advogada – Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-Sorocaba/SP

105. Alexandra Xavier Figueiredo, Advogada, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG

106. Alexandre Trevizzano, advogado, SP

107. Miguel Chibani, Advogado - SP

108. Carolina Brognaro Poni Drummond de Alvarenga - Advogada – MG

109. Maria Rita Reis – Assessora Ministério Público Federal

110. Danilo D’Addio Chammas, advogado, membro da Comissão de
Direitos Humanos da OAB, MA

111. Claudiomar Bonfá, advogado, RO

112. Paloma Gomes, advogada, Distrito Federal.

113. Dominici Mororó, advogado, Olinda, PE

114. Cláudia Mendes de Ávila, Advogada ,RS

115. Patrick Mariano Gomes, advogado, Brasília/DF

116. Maria Betânia Nunes Pereira, advogada, AL

117. Marleide Ferreira Rocha, advogada, DF

118. Patricia Oliveira Gomes, advogada, CE

119. Jucimara Garcia Morais, advogada, MS

120. Juarez Cirino dos Santos, advogado, professor da UFPR, PR

121. Maurício Jorge Piragino – Diretor da Escola de Governo de São Paulo

122. Andreia Indalencio Rochi, advogada, PR

123. Danilo da Conceição Serejo Lopes, Estudante de Direito, MA

124. Marilda Bonassa Faria, advogada, São Paulo

125. Katia Regina Cezar, mestre em direito pela USP, SP

126. Danilo Uler Corregliano, Advogado, SP

127. Regiane de Moura Macedo, Advogada Sindicato Metroviários de SP, SP.

128. Rodolfo de Almeida Valente, Coordenação Jurídica da Pastoral Carcerária de São Paulo, SP

129. Juliana Pimenta Saleh, Advogada, SP

130. Helena de Souza Rocha – Advogada – PR

O manifesto está aberto à sociedade em geral. Para assiná-lo, CLIQUE AQUI

FST: A crise da esquerda e a mula sem cabeça





Em debate promovido pela Carta Maior, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo advertiu que se engana quem pensa que a crise é apenas financeira. “O sistema financeiro virou uma mula sem cabeça”, disse. Se a crise é a do capitalismo realmente existente, e todos os participantes do debate concordaram a respeito, a fragmentação, a perda de acúmulo de consciência e o afastamento da juventude da luta pelo poder configuram um quadro preocupante: a crise da esquerda dificulta a ideia mesma de “rumo”, no século XXI.
Por Katarina Peixoto


Porto Alegre - O Fórum Social Temático 2012 se ocupa, “apenas”, de dois temas: a crise do capitalismo e a destruição do planeta. Sob o pretexto de preparar a Rio + 20, muitos que aqui estão parecem comprometidos com uma crítica radical do que chamam de “capitalismo verde” ou “econeoliberalismo”. Nessa crítica, além dos balanços e das lutas contra barragens, sobressai a atualidade do embate político e teórico entre Reforma e Revolução. O economista da Unicamp e Facamp, Luiz Gonzaga Belluzzo, disse quarta-feira, numa entrevista coletiva na Carta Maior, que esta dicotomia deveria ser revisitada (no seu caso, em defesa de um reformismo radical).

Mais do que um debate sobre a organização dos trabalhadores frente à história, no entanto, Belluzo propõe a retomada do enfrentamento de dois dos aspectos mais fundamentais analisados por Marx: a importância histórica do mercado e o privilégio do presente.

Dentre os participantes das centenas de atividades agendadas (fora as canceladas) neste Fórum, certamente o pessoal que faz tijolos com garrafas pet usadas pode estar presente. Como se sabe, tijolos feitos com garrafas pet são considerados de alta resistência e grande capacidade de impermeabilização. De baixo custo e fácil manuseio, torna-se um candidato mais do que habilitado a entrar no mercado da construção civil. Talvez se possa resumir um dos problemas e dificuldades que frequentam os debates neste Fórum como sendo o do significado de uma empresa de tijolos de garrafas pet usadas.

Por exemplo, seja como cooperativa ou como empresa (pequena, média, tanto faz), poderia a Cia Garrafas Pet Recicladas Construção Ltda ser contratada pela Coca Cola, num consórcio liderado pela Odebrecht e pelo BNDES, para a construção de uma grande barragem na fronteira da Amazônia com a Venezuela?

Uma parte dos ativistas que estão aqui dirão sem tergiversar que uma empresa dessas não pode ser outra coisa que um exemplo da ameaça do “capitalismo verde”. Outros, mais silenciosos e pragmáticos, defenderão que a estrutura cooperativada e a troca da Coca-Cola, quem sabe pela Ambev, seriam não apenas fatores de legitimação do empreendimento imaginado, como um elemento de envergadura geopolítica para o Brasil. Esta hipótese experimentada não pretende ser usada como provocação, apenas. O que se pretende, trazendo-a à baila é enfrentar um problema mais difícil do que as recusas e escolhas “verdes” e “carbon free” dão a ver, nas revoltas anti-barragens ou a favor do “mercado ecológico”.

No debate da manhã de quinta-feira, promovido pela Carta Maior, nenhum dos participantes falou da crise ambiental. Não se sabe se algum dos debatedores tem conhecimento dos empreendimentos em tijolos de garrafas pet e qual a sua opinião sobre a construção de Belo Monte. No entanto, se prestarmos atenção ao que foi dito e debatido, talvez se torne possível, se não evitar Belo Monte, ao menos não sucumbir às ameaças que assombram a defesa do meio ambiente.




O marco da atualidade do debate sobre Reforma e Revolução nos termos propostos por Luiz Gonzaga Belluzzo talvez ajude a enfrentar a grave crise ambiental: trata-se de revisitar o conceito de mercado e de retomar as lições marxistas sobre a transformação do capitalismo a partir dele mesmo, atualmente. Talvez assim o mercado global (porque, como se sabe, não há outro) deixe de ter a atual configuração de uma “mula sem cabeça”, como diagnosticou Belluzo, e passe a ser algo menos estúpido (com todo respeito às mulas) e mais conscientemente dirigido.

“O sistema financeiro virou uma mula sem cabeça” mas se engana, alerta o professor, quem pensa que a crise é apenas financeira. Se a crise é a do capitalismo realmente existente, e parece afinal que todos os participantes concordaram a respeito, a fragmentação, a perda de acúmulo de consciência e o afastamento da juventude da luta pelo poder configuram um quadro preocupante: a crise da esquerda dificulta a ideia mesma de “rumo”, no século XXI.

“Não existe equilíbrio na crise”



Mario Burkun, economista argentino da Universidade de Buenos Aires, chamou a atenção para o que se tem de pensar a respeito da crise. Levando em conta o que chamou de mudança na relação espaço-temporal da produção capitalista, que se apartou do aspecto social em seu metabolismo, e também a consequente autonomia quase total do sistema financeiro sobre o produtivo, Burkún chamou a atenção para a forte dissociação entre as oscilações da crise. Nós, a América Latina, estamos, disse o economista argentino, no “pólo positivo” do atual estágio da crise. Além de não se ter hoje garantias de que essa posição não mudará, deve-se reconhecer que “o neoliberalismo segue sendo a ideologia dominante”, de modo que é preciso se começar a pensar a partir de um outro lugar, que não o dos governos voltados ao controle e gestão do sistema. “Temos de pensar em outras coisas: 1) não existe equilíbrio na crise; 2) não há solução de estabilidade”. Para Burkún, a coincidência do tratamento do Estado entre esquerda e direita configuram o problema político fundamental.

Avaliando as dificuldades de refazimento do país, depois da grave crise de 2001, o professor argentino ponderou sobre o que vem pela frente. “Depois da crise, tivemos muito trabalho para refazer as coisas, com uma juventude sem confiança e com um quadro partidário fragmentado”, ponderou. Hoje, com a implementação de políticas sociais voltadas aos setores mais fragilizados da sociedade, passados já alguns anos do início da recuperação econômica argentina, o problema assume outra face: “As medidas de assistência dos mais despossuídos via políticas basicamente copiadas do Brasil dinamizaram a economia, tiraram os de baixo da miséria, melhoraram as suas vidas, mas não houve acompanhamento dos níveis de consciência”.

Para se ter uma ideia mais ou menos clara do que a expressão “níveis de consciência” quer dizer talvez a intervenção do diretor do Le Monde Diplomatique seja esclarecedora. Ignacio Ramonet começou a sua fala com uma retificação claramente europeia do título do painel: “eu creio que o título não é este, da crise do neoliberalismo, mas a crise da esquerda e a neo-energia do neoliberalismo. Porque esta é a realidade que estamos enfrentando. Vou falar mais da Europa. Mas a ideia que temos na Europa é que efetivamente houve a ilusão de que o neoliberalismo entrava em crise, quando o Lehman Brothers caiu, em 15 de setembro de 2008. Quando este banco quebrou, todo mundo pensava que o ciclo neoliberal tinha terminado. Pensava-se que tinham chegado ao fim os 30 anos de ciclo de neoliberalismo”, lembrou Ramonet.

Falaram, inclusive Sarkozy (quer dizer, não somente a esquerda), na necessidade de regulação dos mercados e no regresso da política, exatamente para se salvar o capitalismo.

“Assim”, observou, “os Estados se endividaram para bancar os mercados e lançaram políticas de empregos subvencionados. E, em 3 anos, os mercados se recompuseram e se voltaram de novo contra os Estados. Nas atuais reuniões de cúpulas já não se fala mais do regresso do Estado, na necessidade de políticas neokeynesianas e os mercados voltam a se impor sobre os Estados”. O fato de os estados e da própria União Europeia não terem reagido com relativa autonomia ou com decisões mais altivas, simplesmente, quando da eclosão da grande crise, estabeleceu as condições para a intervenção do FMI na região, hoje. Mas, questiona Ramonet, “como é que a União Europeia, que é a primeira potência comercial do mundo, que tem alguns dos países mais importantes do mundo, como é possível que o Banco Central Europeu necessite da ajuda do FMI? Tecnicamente, não precisa. Porque tem dinheiro e reserva internacional. Necessita para impor políticas de ajuste, que o FMI sabe aplicar com mais controle. O recurso ao FMI é político, para que ele traga o seu método de intimidar aos países europeus”, denunciou.

A crise é da esquerda, avalia o jornalista francês, não somente porque o neoliberalismo segue triunfante, mas porque foi a própria esquerda, ou soi disantesquerda (a atual socialdemocracia europeia) que viabilizou essa submissão aos ditames da finança. O saldo dessa interferência “reabilitada” pela injeção de recursos e garantias estatais (na verdade, hipotecando e executando direitos sociais) é a queda de 8 governos desde que estourou a crise, em 2008 (Portugal, Irlanda, Dinamarca, Eslováquia, Grécia, Itália e Espanha) e o avanço da extrema direita, a mais regressiva, racista e irracional.

“No caso da Grécia e da Itália, o mercado impôs membros para os governos. Um fenômeno de golpe de estado financeiro. E não houve nenhuma reação da esquerda do governo. Só reação da população, nas ruas. Por um lado, a consequência é o avanço da extrema direita (antissemita, racista), que está no governo da Grécia e, por outra parte, um afastamento da política por parte da sociedade, que passa a rechaçar a política. Do Chile a Israel, passando pelos EUA, Londres e em muitos lugares na AL. Ou seja, temos uma crise em que o único que está se portando bem é o neoliberalismo, enquanto a política, a democracia e a sociedade estão padecendo de uma crise da qual não sabemos como sair”, constatou Ramonet

A intervenção do professor Belluzzo voltou-se a alguns dos temas clássicos da economia política e retomou o que já tinha observado na coletiva de quarta (25). “Vou me concentrar no tema das alternativas das esquerdas. Ontem eu disse na coletiva que os governos, ao socorrerem os bancos, nada mais fizeram do que cumprir os seus desígnios, por conta do caráter coletivo da gestão capitalista que é exercido por essas instituições. Eles são os gestores do crédito. Agora, há mesmo uma crise da finança?”, questiona, para traçar um pequeno histórico do desmonte do estado do padrão ouro do pós guerra, em que a estrutura fiscal era basicamente progressiva e que supunha um alto padrão de regulamentação dos mercados.

“Quando falamos da crise da finança, estamos escondendo alguma coisa”.

Para Belluzzo, a crise é da forma de acumulação do capital. As empresas produtivas também foram para a finança, lembra o economista, referindo os privilégios dos acionistas no estabelecimento dos rumos dos investimentos e demais decisões empresariais dentro do sistema produtivo. Um dos maiores problemas, segundo o economista, é que que o neoliberalismo requereu uma “tremenda regressividade fiscal”, o que é um fator de concentração e portanto de desigualdade.

“Nós perdemos essa batalha em meados dos anos 70. O governo Miterrand tentou, em 82, e foi obrigado a voltar para trás. Nós perdemos isso nos anos 70 (porque eu me incluo nessa corrente que acha que a economia deve aos cidadãos uma vida boa e decente). E nós devemos começar a discutir qual é o ponto central dessa maquinaria, que é o sistema financeiro, que é (tem muita gente que não leu o Livro III do Capital, então não sabe disso), que é o capital par excelence”.

Para Belluzo, a sua opinião é a de Marx: o socialismo vai nascer da luta política transformadora do capitalismo. “Não vamos reinventar a sociedade, vamos partir do que o capitalismo inventou. Isso o Lenin também disse. Eu tô dizendo uma banalidade. Quando Lênin viu o sistema de crédito do capitalismo, disse: taí uma grande novidade. Não devemos confundir o mercado com o capitalismo. Temos de controlar os elementos que produzem o mercado, temos de fazer com que as relações mercantis funcionem para o bem estar da comunidade”, concluiu.

A seguir, na segunda parte do texto, vamos acompanhar a intervenção do Alto Representante para o Mercosul, Samuel Pinheiro Guimarães, bem como os debates que se seguiram às falas dos convidados. Talvez assim a crise da esquerda frente aos desafios impostos pela indústria possível dos tijolos de garrafas pet usadas venha a ser tratada em perspectiva.

Belluzzo citou Adorno, no debate que se seguiu, a propósito do que Burkún chamou de “ganhos de consciência”, acima: “não há liberdade sem compreensão”. O embate sobre Reforma e Revolução, como se poderá ler, é menos trivial e arcaico do que parece.

Fotos: Tuane Eggers

27 janeiro, 2012

Minha 1ª vez em SP e mais um pouco de história

Do Xico Sá
Dica dos tecedores @DeniseSQ e @Cidoli

Juro, foi tão comovente quanto ver o mar pela primeira vez. Minha chegada foi de bagunçar o coração, coisa de cinema.



foto João Wainer 
Valia o sonho da velha piada: “Cresce logo, menino, pra ir pra São Paulo”.

E haja Emulsão de Scott, aquela delícia de óleo de fígado de bacalhau, para vitaminar o crescimento.

O eco da voz materna retorna agora ao sótão edipiano da cabeça de cearense: “Se não tomar o remédio não vai para São Paulo!”

Meus tios e primos, que haviam migrado nos anos 1970, voltavam de férias cheios de histórias de grandezas.

O tatuzão cavando pra fazer o metrô era a coisa que mais me impressionava. Eu sonhava com aquele bicho gigante.

“Estou trabalhando debaixo da terra”, dizia um parente. “Lá é tão frio que chove até pedra de gelo”, assombrava outro.

Aquelas narrativas nos deixavam, matutos do Sítio das Cobras, município de Santana do Cariri, maravilhados.

Será que um dia vamos conhecer essa terra? Será? Aquelas fábulas fantásticas acabaram funcionando como um hormônio e tanto para o crescimento.

Quando o ônibus chegou na rodoviária, em janeiro de 1976, eu enxugava, com a manga da camisa, algumas rápidas lágrimas que escaparam pelas brechas da macheza semi-árida.

Um alumbramento que me fazia enxergar um Sena onde havia apenas um Tietê. Eu já era um simpático rapaz espinhento e adolescido.

Peguei o metrô e sofri para achar a casa do meu tio Alberto, no Parque São Rafael, ZL. Só a avenida Sapopemba era uma eternidade.

“Ô Saopaulão grande da bubônica, ô Sãopaulão grande da porra!”, matutava o matuto.

Dias depois, gastava o espanto de novo baiano na Sé, no Viaduto do Chá, na frente dos cines e teatros pornôs do Centrão, na Augusta –esperava anoitecer e subia e descia só recolhendo imagens que seriam devidamente escaneadas no banho.

Passeava sozinho por SP, exercendo a bela arte de chutar tampinhas e de abestalhar-me com as mulheres da cidade, caro João Antônio.

Lindas, mas na delas. “Quase nenhuma te encara na rua, são econômicas de olhar”, refletia. “Só devem sorrir nas firmas... jamais nas ruas!”

Durante a temporada de mês, só as generosas moças da Luz e da Augusta, as “secretárias das calçadas” –como dizia um sucesso brega da época- sorriram para mim, sem graça.

Coitado daquele rapaz, voltou para o Nordeste mais seco e necessitado do que retirante de quadro de Portinari.

No dia 1º de abril de 1990 -depois de ter morado em Juazeiro, vivido a educação sentimental no meu Recife e passado por Brasília-, estava de volta, agora para ficar, profissionalmente.

Continuei achando as moças lindas. Agora já me sorriam nos corredores da firma. Mas foram necessários uns seis meses (tenho duvida) para que Maria Ligia, meu primeiro amor em SP, acreditasse na minha conversa de loucura por aqueles ojos verdes.

Tão linda. O Tietê voltou rapidinho à sua condição de Sena.

Para completar a euforia, descobri os sabiás da megalópole -meu passado me condenava como vendedor de passarinhos. Em pleno Largo de Santa Cecília, acordava ouvindo esses danados. Ainda hoje me impressiona como tem sabiá na cidade.

Tem mais sabiá aqui do que na minha infância inteira, seu Rubem Braga. Minha terra tem Palmeiras, São Paulo, Corinthians... onde canta o sabiá. Adorava recitar essa parodiazinha ridícula.

Muitas Augustas, Angélicas e Consolações depois... Muitas bistecas e muitos engradados do Sujinho depois, vez por outra me pego ranzinza, reclamando e mal-dizendo da cidade.

Até pareço um paulistano nessas horas. Mas ai basta lembrar do que diz a minha mãe, aquela que me empurrava o Emulsão de Scott, para que o mau-humor com a província de Piratininga se dissolva.

Quando dona Maria do Socorro me ouve xingando essa terra, fala duro, com firmeza, num corretivo:

“Meu filho, cala-te boca, você num sabe que São Paulo foi quem deu o pouco que temos. Vê que casa linda me deste de presente!”


25 janeiro, 2012

Nicolelis fala de religião e ciência

A Ascenção - Ilustração de Gustavo Doré

Do Paulolopes
Por Maria da Paz Trefaut
Dica @Be_neviani

O mais renomado cientista brasileiro da atualidade, Miguel Nicolelis, vive entre Brasil, Estados Unidos e Suíça. Às vezes completa essa triangulação em uma semana e nem sabe em que fuso horário está. Mas isso não o incomoda. Com projetos nos três países, o neurocientista paulista, fanático pelo Palmeiras, tem a ambição de fazer um adolescente brasileiro tetraplégico dar o pontapé inicial na abertura da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Para isso, usará uma veste robótica controlada pela força do pensamento.

Desvendar a possível interação cérebro- máquina é um dos grandes desafios de Nicolelis, referência na pesquisa com próteses neurais, cujo trabalho integra a lista das "Dez Tecnologias que Vão Mudar o Mundo", do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Professor de neuroengenharia da Universidade Duke (EUA), tem projetos educacionais igualmente ambiciosos no Brasil. Um deles é em Macaíba, no Rio Grande do Norte. Ali deverá ser inaugurado, no início de 2012, o "Campus do Cérebro", uma escola em período integral que beneficiará 5 mil crianças, do berçário ao ensino médio. Já o "Educação para Toda a Vida", que começa na barriga da mãe, vai prestar assistência gratuita para 15 mil gestantes na periferia de Natal.

Ele concedeu à Planeta a entrevista que segue.

Se um tetraplégico der um pontapé na bola, na abertura da Copa de 2014, será uma revolução na ciência. O que ela tem de essencial?

É uma nova forma de abordar a questão da reabilitação e uma nova forma de entender o cérebro. Sem uma nova teoria do cérebro a gente não teria conseguido chegar a essa tentativa de fazer uma aplicação clínica. É também uma revolução tecnológica, porque essas aplicações não vão se restringir à medicina. As interfaces cérebro-máquina envolvem interações com nossos computadores e com as ferramentas que usamos diariamente.

Esses tratamentos devem ajudar a romper o estigma das doenças?

Essa é uma das razões pelas quais escrevi este último livro [Muito Além do Nosso Eu, recém-lançado pela Companhia das Letras,]. ara mostrar que o que a gente chama de normal e anormal é separado por uma fronteira muito tênue. É muito rápido um cérebro dito normal evoluir para um dito patológico. Para um de nós ficar esquizofrênico não é preciso muito.

É um processo químico?

Entre outras coisas. No frigir dos ovos, tudo se resume a uma mudança de balanço de neurotransmissor e de atividade elétrica do cérebro. A gente percebe que são pequenas variações que levam você a ouvir vozes, ter delírios. Nos dias de hoje, aliás, a humanidade curiosamente é dominada por três esquizofrênicos que ouviam vozes, olhavam para o céu e achavam que alguém estava falando com eles.

Quem são?

Jesus Cristo, Maomé e Abraão. Muito provavelmente os três precisavam de haldol (medicamento para esquizofrenia). É arbitrária qualquer classificação que defina as bordas da normalidade. Cada vez mais a intolerância e o preconceito esculpem essa borda com seus interesses próprios ideológicos e políticos. Quando você vê o cérebro por dentro e começa a entender o que acontece, percebe como é fácil ir de um lado para outro.

Você falou de três símbolos religiosos. Você é ateu?

Sim, mas acho que a religião faz parte do sistema nervoso. Como o cérebro é um simulador da realidade, ele cria um modelo e uma ilusão de realidade para cada um de nós. Ele precisa de uma história: de onde viemos? Como começou o universo?

Materialista ou religiosa?

Exatamente. Os pigmeus africanos acham que a gente saiu do céu, que havia uma corda e eles foram descendo. Toda cultura tem uma história. O problema é que algumas são excludentes e prejudiciais ao bom convívio da espécie, na medida em que elegem os eleitos e os não eleitos.

A questão dos comandos cerebrais envolve telepatia?

Não, porque a telepatia pressupõe que a energia espontânea do cérebro é capaz de transmitir pensamentos.

Há energia no cérebro?

Ele tem um campo elétrico e magnético, mas muito pequeno. Não tem como um sinal sair do cérebro, passar pelo crânio e ir da minha cabeça para a sua. É impossível! Mas você pode registrar esses sinais, transmiti-los artificialmente - como a gente já faz - e mandá-los para uma máquina ou, em teoria, para outro cérebro. É nisso que estamos trabalhando.

Esse é o objetivo da brainnet?

Estamos trabalhando na ideia original, brain to brain interface. Trata-se de pegar o sinal de um cérebro e mandar para outro e ver se ele entende. Se for possível com um par de cérebros, será possível em qualquer combinação. Claro que tecnologicamente isso tem dificuldades enormes: não basta registrar o sinal, mas entregá-lo para outro cérebro. Em teoria, a ideia é factível.

Como você vê o futuro...

Bem diferente do atual. A gente tem a tendência de ter medo, porque todos os sinais do futuro são dramáticos.

... ... da máquina humanizada...

Isso é uma barbaridade científica. Não há nenhum computador que tenha a chance de reproduzir atributos humanos. Isso é pura balela, propaganda ideológica. É uma visão capitalista, de que você não vale nada e pode ser substituído por um robô. A máquina consegue executar movimentos repetitivos. Não consegue escrever poesia, pintar como Picasso, tomar decisões baseadas na natureza humana. Todas as características que fazem a gente ser como é resultam de processos extremamente complexos no cérebro e são fenômenos não computáveis.

Isso define o limite da tecnologia?

Claro, ela é uma expressão da nossa capacidade criativa. Por isso são tão interessantes esses achados neurofisiológicos recentes, que mostram que todas as ferramentas que criamos são assimiladas pelo cérebro como uma extensão do nosso corpo: mouse, caneta, raquete de tênis, bola, carro, bicicleta. O cérebro cria a ilusão do que o nosso corpo é. E tudo o que a gente experimenta é uma ilusão; é um modelo do mundo.

Tudo é ilusão?

Sim. Se seu cérebro fosse diferente, você ia ver o mundo diferente. A sua história de vida foi diferente da minha; nós dois olhamos uma rosa vermelha e ela evoca memórias peculiares em cada um. Até recentemente a gente achava que a sua experiência e a minha, ao olhar uma coisa assim, era a mesma. Hoje a gente sabe que não é: o cérebro tem uma opinião. Esse ponto de vista foi construído ao longo da sua vida e da minha e ao longo da nossa espécie do ponto de vista evolutivo. Nosso cérebro vai ter um papel cada vez mais relevante na ampliação do nosso alcance como espécie. O nosso corpo vai perder relevância.

Mas vivemos o culto do corpo.


Pois é, até hoje o culto do corpo dominou nossa espécie. Então, quem aproveitou, aproveitou. A partir daqui, quem vai ganhar o embate é a mente. A seleção natural de quem vai sobreviver privilegiará aqueles capazes de usar a mente para agir com uma cornucópia de equipamentos, ferramentas e tecnologias que serão controláveis apenas por pensamentos. Antes, sobrevivia quem caçava bem. Amanhã será a vez de quem conseguir usar a mente para controlar 200 equipamentos ao mesmo tempo.

Diz-se que usamos uma porcentagem ínfima da nossa capacidade.

Mentira. Na verdade, a gente usa tudo o que tem. Se tivesse mais, usava também. A gente perde neurônios a partir dos 18 anos, mas é uma perda muito pequena. Num certo ponto da vida essa perda passa a ser relevante: você vai esquecendo coisas e não tem mais a mesma agilidade mental.

Como você cuida dos neurônios?

Pensando. Desafiando a mente a pensar em coisas a que não estou habituado. É como um exercício físico.

Não cansa?

Demais. Tem dias que o esforço é tanto que eu capoto e acordo no outro. Estou ligado o tempo inteiro. Para mim isso não é trabalho, é prazer.

Vinte anos fora do Brasil modificaram a sua visão?

Ah, o exílio é o maior elixir do patriotismo. Você vê as coisas que não são boas, mas isso não abate as maravilhas que existem aqui. Temos muito potencial, que agora começa a aflorar de forma caótica. Mas temos um grande desafio pela frente. Nossa classe polícortica é muito fraca, muito pobre, dissociada da realidade. É uma classe que só pensa no espólio, em como extrair para si o que for possível. A situação da população melhorou bastante nos últimos anos, mas ainda falta muito para se construir uma cidadania plena. A educação é o único caminho.

Você se considera ousado?

Sim, desde o futebol na rua. Sempre me meti onde não era chamado.

E só encontrou espaço para se desenvolver fora?

Não havia muito espaço para minhas ideias quando deixei o Brasil. Ao pensar em voltar, fui desencorajado.

Por quem?

Pelo chefe do departamento que, claramente, tinha seus protegidos e sabia que minha volta ia causar problemas. Era 1991 e a situação brasileira era muito complicada, com o confisco do governo Collor. Perdi toda a poupança que tinha e nunca mais recuperei. Mas minha grande crítica é que acho que grande parte da ciência brasileira é humilde. As pessoas têm medo de ousar, têm complexo de que não se pode fazer coisa grande, ambiciosa. Têm medo.

Isso prejudica o Brasil?

A ciência brasileira é muito provinciana. A academia de ciências também, e a maneira de financiar é cartorial. Nosso modelo é um dos mais perniciosos para um jovem cientista penetrar. Os sujeitos mais seniores dominam tudo e se você não tem um padrinho não consegue nada, porque é clube fechado. Nos Estados Unidos é o contrário: as possibilidades de financiamento para os jovens são garantidas de forma a assegurar uma renovação contínua de talentos. Aqui, o negócio é manter o status quo.


Este texto foi publicado originalmente na edição 467, agosto de 2011, da Planeta.

Leia também: 
Quebrando neuroparadigmas
Monkey brains 'feel' virtual objects
Miguel Nicolelis : Muito além do nosso eu
The Walk-Again Project

O lado B do Pinheirinho (Vídeo)

Do Coletivo de Comunicadores Populares
Dica @alexchina_0_



Para saber mais:
Pinheirinho: Naji Nahas, Alckmin, imprensa e polícia contra 7 mil moradores pobres 


24 janeiro, 2012

Sobre a ironia (por @joaonildo51)

São Paulo


Era uma vez um tempo e lugar onde ainda se podia brilhar com um bocadinho de ironia, que compensava todas as lacunas, favorecia alguém com honrarias e dava a reputação de ser culto, de compreender a vida, além de de proporcionar aos iniciados um passaporte para uma vasta Franco-Maçonaria espiritual.

Ainda nos deparamos, vez em quando, com algum representante dessa confraria que conserva este fino sorriso significativo, ambiguamente revelador, sobre o qual se construiu reputações.

Conceituar essa dialética aprendida secularmente com o tempo e com os grandes mestres da figura de linguagem irônica,o que caracteriza o conceito de ironia,ou como a ironia supera imediatamente a si mesma, na medida que o orador pressupõe que os ouvintes o entendem, e deste modo, através da negação do fenômeno imediato, a essência acaba identificando-se com o fenômeno , tem sido objeto de inúmeras considerações.

A ironia, como discurso literário ou filosófico apresenta duas vertentes: Uma grega, “eironeia” significa interrogação, é fator auxiliar de conhecimento, daí a ironia Socrática.

Outra latina significa dissimulação,está posta no intervalo entre o que se diz e o que se quer significar e é sobretudo um jogo de palavras.

Não se encontra para o que seja ironia, uma definição plenamente satisfatória, por seu caráter fluido e nebulosos construiu-se diferentes perspectivas teóricas e em muitas delas faz-se a junção de ironia com ceticismo,chiste, paradoxo, sátira, impostura, troça, sarcasmo, paródia, perífrase, pastiche, mentira e considerando-se ainda que pode-se falar de vários tipos de ironia Socrática, filosófica, romântica, trágica, cômica, ingênua, auto-ironia, ironia retórica ou humor.

Outro problema no seu estudo ocorre na perspectiva da nomeação, cuja referência pode ser o meio, o objeto, o efeito , a técnica, o praticante a atitude ou o tom e ainda como se não bastasse, é fato que cada autor utiliza a ironia a seu modo estabelecendo as marcas de seu estilo pessoal e intransferível.

Enquanto figura de linguagem a ironia, no seu sentido mais corrente postula significar o contrário do que se diz, tanto no contexto como no texto, dizer o contrário do que se pensa ou do que se quer seja pensado, mesmo dizendo o contrário do que afirma, diz sobretudo mais do que fica expresso.

O desacordo entre enunciado e enunciação constitui o terreno da imprevisibilidade, da incerteza, da estranheza da contraditoriedade, características da ironia. Revela seu caráter revolucionário, questionador e contestatório. Sendo assim a aptidão do homem para a ironia pode ser proporcional a sua capacidade de questionar o discurso ideológico do contexto em que está inserido. Em última análise a ironia revela sobretudo uma visão crítica da vida.

Se ocorre, eventualmente, que um tal discurso irônico, no que diz respeito aos efeitos e consequências da ironia retórica, venha a ser mal compreendido, não é culpa do orador, a não ser na medida em que foi se meter com um patrão tão malicioso como a ironia, que tanto pode pregar peças em amigos quanto inimigos.

A ironia assim considerada como própria dos conspiradores e do ponto de vista daqueles a quem ela se dirige, pode ocorrer de duas maneiras: Ou o irônico se identifica com a desordem que ele quer combater, ou ele assume frente a essa uma relação de oposição.

Em todos estes casos a ironia se mostra como aquela que compreende o mundo, que procura mistificar o mundo circundante, não tanto para ocultar-se quanto para fazer os outros se revelarem.

É curioso todavia, ressaltar que a figura de linguagem irônica aparece principalmente nas classes elevadas como uma prerrogativa do chamado bom-tom , o qual exige que se sorria da inocência e se considere a virtude algo de bitolado, ainda que se acredite nela, até um certo ponto.

Na medida que os círculos elevados falam assim de maneira irônica, tal como oligarquia e a burguesia brasileira abastada falava francês, para não ser compreendida pelo povo leigo e pelo comum dos mortais, a ironia corre o risco de por definição procurar o isolamento e tornar-se apenas uma forma subordinada de vaidade.

Esse outro sentido revela a percepção sobre como a ironia foi historicamente usada para contornar exames mais aprofundados e assim esconder ignorâncias e fragilidades.

Este tipo de ironia supõe um distanciamento com o leitor ou ouvinte que lhe possibilite perceber as incongruências as ambiguidades presentes no discurso, pois não é possível estabelecer com clareza o significado pretendido pelo emissor.

Enquanto a ironia retórica serve a monologismo ao poder estabelecido, à ideologia, busca salvaguardar valores e apega-se a um sentido já existente, a ironia literária postula o diálogo, brinca os valores pois sabe que eles são mutáveis conforme o contexto e a circunstância.

Trago aqui, sem qualquer pretensão de haver esgotado a riqueza de ângulos, texturas e pontos de vista que o tema possibilita, a homenagem aos que fizeram do uso da figura de linguagem irônica uma arte e instrumento de busca do verdadeiro saber (Maiêutica) e aos que delas abusam, (Sofistas), a advertência nos excertos da correspondência de Rainer Maria Rilke,( “Cartas a um jovem poeta”) nascido em Praga e um dos autores de língua alemã mais conhecidos no Brasil , traduzido por alguns dos maiores nomes da poesia brasileira como Manuel Bandeira ou Cecília Meireles ou ainda Augusto de Campos.


Rilke

Cartas a Frans Xavek Kappus

Viareggio perto de Pisa (Itália)

5 de Abril de 1903

”É preciso que me perdoe caro e prezado senhor, por só agora lembrar com gratidão, de sua carta de 24 de fevereiro (…) Hoje eu queria dizer duas coisas ao senhor . Primeiro quanto a IRONIA.

Não se deixe dominar por ela, principalmente em momentos sem criatividade, nos momentos criativos, procure fazer uso dela como mais um meio para abarcar a vida. Usada com pureza ela também é pura, e não é preciso envergonhar-se dela.

Caso a intimidade seja excessiva, caso o senhor tema essa excessiva intimidade com a ironia, volte-se para os assuntos grandes e sérios , diante dos quais ela se torna pequena e desamparada. Procure o fundo das coisas: Ali a ironia nunca chega.

Assim, se o senhor seguir seu caminho à beira do que é grandioso, pergunte-se também se esse modo de entender o mundo corresponde a uma necessidade do seu ser. Pois , sob a influência de coisas sérias, ou a ironia o abandonará (se ela for algo ocasional), ou então ela ganhará força ( se lhe pertencer como algo inato) e se converterá em uma ferramente séria, assumindo seu lugar no encadeamento dos recursos com os quais o senhor terá de constituir sua arte. (…)”

Rainer Maria Rilke 


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