18 agosto, 2012

Eleições em Porto Alegre. Onde está o encanto?


Porto Alegre ao pôr do sol 

Quase todos os (20) leitores do blog sabem que estive alguns longos anos fora de Porto Alegre. Quando voltei para morar, que é diferente das visitas semestrais que fazia, encontrei outra cidade. Algumas regiões como a que era a zona rural, agora está com plantação extensiva de condomínios e avenidas, que me lembram tristemente a ocupação no mesmo estilo ( para todas as conotações da palavra) da Barra da Tijuca, no Rio, nos 80 e 90. 

Os casarões da Carlos Gomes e outras avenidas agradáveis ao passeio – que era uma das melhores coisas a se fazer em Porto Alegre, o bater pernas por aí - quase todos se foram e deram lugar a uns edifícios pós-modernosos que me parecem essa arquitetura de shoppings, túmulos do bom gosto. Os bairros mais centrais - fora o fim dos cinemas de rua, que agora alojam estacionamentos até que algum ‘empreendedor’ resolva fazer alguma outra homenagem ao mau gosto, ou que a administração da cidade resolva fazer a cidade funcionar como cidade outra vez – com exceção de algum que outro edifício novo, e das odiosas grades que escondem os jardins, segue mais ou menos igual.

Fora essa percepção ainda meio turística, a outra é triste. A cidade está largada. O Gasômetro que é ponto turístico e já foi referência cultural depois da reforma do governo Olívio, está literalmente às aranhas. Os arredores, o parque à beira do Guaíba, tomado por barracas patrocinadas por algum energizante de marca, e lixo, lixo e mais lixo. Mesma coisa a Redenção. O Auditório Araújo Viana, no centro do Parque, está escondido por tapumes e sem o som da maravilhosa concha acústica ecoando, numa obra que dura cerca de 7 anos. Nas ruas por onde passo, com raríssimas exceções, há buracos que certamente já sopraram pelo menos duas velas. 


Foto: Luiz Muller  

Pois bem, num dos debates que ouvi para a prefeitura de Porto Alegre, que passou na TV Bandeirantes, ri muito. Não sei se a aproximação de outubro e se os questionáveis índices das pesquisas vão ter alguma influência sobre os candidatos e suas propostas, mas se não tiverem, e se a tendência das pesquisas não for revertida, preparem-se.

No tal debate, estavam todos os candidatos, incluindo os midiaticamente noticiados como os preferidos para ir a um segundo turno: o atual prefeito, José Fortunati, e a ex-vereadora e deputada, Manuela. Além, claro do Villaverde, do PT, partido que tradicionalmente tem 30% dos votos de saída na cidade, que este ano saiu com 20 % (sempre os índices dessas pesquisas que apontaram o Villa com 3% (?), ainda em julho). 

Posse em 2010
Fortunati, que era o vice do Fogaça (derrotado em primeiro turno em 2010 para o governo do Estado), e portanto comanda a cidade há 8 anos, em primeira pessoa gerundiava que a administração está fazendo, está melhorando e anunciava inaugurações para antes das eleições (pode?). Quando apertado, jogava a culpa ora no governo estadual, ora no federal, ora na própria população, e dizia ter assumido há pouco. Quando podia, invocava os dois governos e a população como aliados na sua luta – que parece ser inglória, visto o estado da cidade - pela melhoria ... 


A outra candidata, Manuela, cujo partido também é aliado do governo federal e do estadual, mas com quase nada de expressão - salvo alguns quadros históricos respeitáveis pela luta coletiva - na cidade quanto no Estado, se expressa também em primeira pessoa, mas em vez de gerúndio usa o futuro: eu farei, eu tomarei providências. O personalismo discursivo e anúncio de ações tão mirabolantes me fizeram duvidar que conheça alguma planilha básica, dessas que a gente controla o orçamento doméstico. E esse tipo de discurso a gente sabe no que dá: no primeiro mês de governo já vai ter descumprido pelo menos 40% das promessas, porque de boa vontade o ostracismo político está cheio. 

Se eles são tão fracos, como podem estar à frente nas pesquisas, pode se perguntar algum leitor novo.



Pois bem, não sei exatamente a composição partidária, mas o prefeito atual conseguiu, sabe-se lá a que custo, uma salada de apoios de uns 12 partidos, que reúne PP e PMDB junto com PDT. Os tempos mudaram muito, pois todos sabem que há alguns anos essa composição seria impensável. PP e PMDB eram como gremistas e colorados fanáticos, sempre cada qual no seu lado do estádio. E PDT era o partido do Brizola.  

Mas claro, com a privatização e concessão de espaços públicos à iniciativa privada, além dos partidos – que só por estarem ladeando-se nessa disputa se vê que a bandeira histórica conta pouco – tem o apoio da mídia local no círculo vicioso que é dinheiro = anúncios = notícia.



Foto JC de 15/08
Já a deputada comunista conta com alguns outros partidos de menos tradição, mas arrebanhou o apoio do PSD (do prefeito Kassab de São Paulo) e da senadora Ana Amélia, do PP que apóia Fortunati. A senadora se licenciou do mandato - para o qual foi eleita devido à popularidade alcançada como jornalista e correspondente da RBS de Brasília, para onde foi acompanhando o marido que era senador biônico da Arena. Essa senhora carrega na necessaire política apoio ao golpe branco no Paraguai e a defesa da emenda 164 do código florestal. Só por essas duas posições pode-se ver o quão comunista é, e o quão social poderá ser o governo de sua protegida. A senadora também, claro, tem seu espaço midiático assegurado.

Com enorme tristeza não vou votar, porque quando mudei e pude comprovar residência, o prazo para mudança de domicílio eleitoral já havia terminado. Mas sinceramente, não pretendo viver quatro anos numa cidade governada por nenhum desses dois midiáticos candidatos e sua maionese, passada, de apoios.

E se temos a oportunidade de ver novamente na prefeitura o PT, 
 partido com o lastro político e administrativo, que colocou Porto Alegre no mapa do mundo como exemplo de democracia participativa, por que aventurar-se em alguma dessas saladas viajantes? 


Conselho político da candidatura de Adão Villaverde 

Um comentário:

  1. Que texto triste e forte Denise, mostra bem esse tempo que vivemos e que vale p/ todas as situações em que "a bandeira histórica conta pouco". Abração,
    Magá

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